Berço de espinhos.

Eu prefiro ser o grito na rua, Do que o silêncio que tudo atura, Enquanto uma mãe chora esquecida, E a cidade dorme sem culpa, sem vida. Ela foi solo fértil, mas só semearam mentiras, Regaram promessas, colheram feridas, O amor jurado virou despedida, E agora ela anda sozinha, perdida. E o povo esquece, e o povo acredita, E a fome grita, mas ninguém liga. O lobo veste ouro, discursa, engana, Enquanto ovelhas se perdem na lama, Levanta a mão, promete fartura, Mas ri no banquete, deixando a rua. Cadê o hospital? Cadê a escola? Cadê o leite que falta na hora? Dizem que mãe é estrela divina, Mas deixam brilhar sozinha na esquina. O tempo avança, a barriga cresce, O medo aperta, a fome aquece, Seu filho não chora, ele clama, ele grita, Mas ecoa no nada, e a vida castiga. E o povo esquece, e o povo aplaude, E a dor grita, mas ninguém ouve. Se mãe é sagrada, por que está no chão? Se a dor tem voz, por que grita em vão? Se a justiça dorme, eu sou pesadelo, Se a verdade morre, eu rasgo o silênc...