Poema- Neblina.


 Quando a luz apagava no quarto
e o vento fazia barulho na janela
a gente jurava que tinha um monstro no canto,
até ouvir a voz da mãe
Tá tudo bem, eu tô aqui.
Ela sentava na beira da cama
fazia carinho no cabelo
e de repente o medo virava sono
e o sono virava sonho
de um lugar onde tudo era seguro.
Teve aquele dia lembra?
O pai levou a gente pra ver o mar
ou uma cachoeira
ou só uma praça cheia de pombos.
E a gente pensou
Como pode o mundo ser tão bonito assim?
Teve o primeiro tombo de bicicleta
o joelho ralado
e o mundo desabando
mas depois veio o sorvete
e aquele abraço que curava tudo.
Teve a primeira professora
com cheiro de giz e perfume doce
que ensinava a escrever o nome
como se estivesse nos dando
o mapa da nossa própria existência.
Teve o primeiro beijo
meio torto, meio tímido
coração acelerado
como se o universo inteiro
tivesse parado pra assistir.
E teve gente que se foi.
A vó que fazia café com cheiro de lar
o tio engraçado que sumiu da mesa
o amigo de infância que virou lembrança.
Mas cada um ficou em algum canto da alma,
feito fotografia que nunca desbota.
Hoje a gente é adulto
mas ainda tem aquele medo às vezes.
E daria tudo pra ouvir de novo
Tá tudo bem, eu tô aqui.
E mesmo que ninguém fale
mesmo que o mundo pareça duro
há um menino ou uma menina
dentro de cada um de nós
que só quer correr descalço
e ver o céu ficar rosa no fim da tarde.
Então feche os olhos.
Respira.
Se lembra.
Você é mais forte do que pensa
porque carrega dentro do peito
tudo aquilo que já viveu.
E o passado,
quando é feito de amor
é o que mantém a gente inteiro.

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