O doce mistério na rua Freire
Na rua Freire, onde os dias se dissolvem em açúcar,
havia uma mulher de olhos que eram labirintos.
Ela vendia doces — caramelos ou sonhos?
Nunca soube ao certo, pois a cada mordida, o sabor fugia.
Ele a viu no canto de uma sombra que não existia,
ou talvez fosse a luz que a transformava em fábula.
"Você é real?", ele perguntou sem dizer nada,
e ela respondeu com um sorriso que parecia chuva.
Os encontros eram enigmas num tabuleiro invisível:
ela falava de estrelas que nasciam em potes de vidro,
ele respondia com mapas de rotas que nunca navegou.
"Somos pobres ou ricos?", ela perguntou certa vez.
Ele riu, mas o eco soou como um choro abafado.
Tiveram filhos, dizem os ventos que passam.
Meninos que brincavam com sombras e
desenhavam na poeira os contornos de um futuro.
Mas ninguém os viu crescer, nem mesmo eles.
Seriam crianças de carne, ou apenas ideias doces?
Na Freire, a mulher seguia vendendo seus doces,
e ele, perdido entre palavras que não existiam,
escrevia poesias que só o silêncio entendia.
Eram felizes? Talvez, mas felicidade é um mistério.
Viviam juntos ou separados pelo tempo?
Ninguém sabe, nem mesmo eles,
pois o amor que vendiam não cabia em rótulos.
No fim, sobraram apenas os doces:
pedaços de histórias que ninguém pode provar.
E a rua Freire continua lá,
uma esquina do mundo,
onde amor e mistério têm o mesmo sabor.
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