Poema- O anjo dourado.



Parece abrigo…
Mas era só teto.
Parece abraço…
Mas era só pele com pressa.
Parece amor…
Mas era só a fome de não morrer sozinho.

O mundo dança bêbado no salão da pressa.
E há olhos cansados,
Que esqueceram como se brilha.

Choram flores nos quintais de concreto.
A ferrugem já invadiu os beijos.
E há quem diga que isso é normal…

Mas em algum canto 
Onde as janelas tremem sem vento 
Um antigo viajante das alturas
Sussurra fórmulas de esquecimento.

Não diga o nome dele.
Ele adora ser lembrado.
Conhecido por muitos nomes,
Tem horror a um só: amor.

Ele é o primeiro órfão do Céu.
O que cantava entre os astros…
E caiu por desejar tronos.

Hoje, caminha em becos que parecem avenidas.
Oferece atalhos disfarçados de liberdade.
E sopra dúvidas nas casas onde o silêncio deveria ser paz.

Ele não destrói.
Ele desacredita.
Não grita.
Ele desgasta.

Oferece espelhos.
Diz:
Veja como você merece mais.
Veja como ela mudou.
Veja como o vizinho sorri mais que seu marido.

Ele não separa com guerras.
Ele separa com Wi-Fi.
Com emojis.
Com o vazio entre duas notificações.

Ele odeia a mulher que decide ficar.
O homem que escolhe ouvir em vez de gritar.
O casal que ora no quarto apagado
Com os filhos dormindo ao lado.

Porque o amor verdadeiro…
Esse que não faz barulho
Esse que não precisa ser postado
Esse que sangra, mas escolhe permanecer 
Esse amor é um idioma que ele não fala.

E cada vez que dois seres
Decidem seguir juntos
Apesar do caos,
Um pedaço do céu se reconstrói.

E o exilado, o andarilho de sombras,
Rasga os mapas.
Fica cego de ódio.
Pois sabe que perdeu…
Não só o paraíso,
Mas a única coisa
Que nunca poderá imitar:
Amor em sua forma crua, corajosa e fiel.

Então, se o mundo rir do seu amor,
Se zombarem da sua entrega,
Se parecer loucura seguir acreditando…

Lembre-se:
Até os anjos caem.
Mas quem ama de verdade
Sobe.
Mesmo de joelhos,
Sobe.

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