Poema - País fantasmático.
Não sei mais se estou em mim
Ou se fui vendido em algum discurso bonito
Desses que prometem o céu
E entregam um cinzeiro vazio.
A praça virou palanque
Mas ninguém ouve quando o povo grita
Só ouvem o que querem…
E dizem que é "pela causa" — como se a causa fosse santa.
Me disseram que tudo ia mudar
Que o vermelho era amor, igualdade, futuro.
Mas o pão ficou mais caro,
E o vizinho sumiu do bairro — foi morar na rua.
Gritam contra o ódio com ódio nos olhos,
Se dizem libertadores, mas só libertam os deles.
Decretam quem pode falar,
E nos chamam de fascistas por querer pensar.
O poeta foi calado por um algoritmo,
O agricultor virou vilão por plantar demais,
O pai de família virou burguês opressor
Por querer dar leite para os filhos — sem rótulo de governo.
E eu aqui…
Tentando me encontrar em um país que parece não se lembrar de mim,
Que celebra bandeiras que nunca tremularam por nós,
E pinta de arte o que é só escuridão.
Gosto de São Paulo, de São João,
Dos santos de pedra e do povo do chão.
Gosto da rua quando está em paz,
Mas hoje ela grita com megafones ensaiados.
E mesmo assim… eu canto.
Canto em português errado,
Troco os pronomes, os partidos, as certezas.
Mas canto. Porque sei que ainda há quem escuta.
Me chamaram de alienado por não ajoelhar,
Por não levantar punhos vermelhos no ar.
Mas eu quero é levantar um país
Que foi enterrado sob promessas de revolução.
Talvez gostem de meninos e meninas,
Mas não gostam de famílias.
Talvez falem de amor e inclusão,
Mas segregam ideias, apedrejam opiniões.
Eu quero um país de mãos dadas — não de punhos cerrados.
Quero um amanhã onde o povo não sirva de massa
Pra enriquecer quem diz lutar por ele
Mas só distribui o que nunca foi seu.
Se é errado amar o Brasil sem filtros
Então eu erro com gosto, erro com alma.
Mas não me chamem de intolerante —
Por não querer mais viver sob silêncio forçado.
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